Matéria Especial


"Os Mitos São Eternos"

 

Por Clackson

 

O Grande Prêmio Brasil deste ano tem um significado muito além daquele que já cerca a prova magna do turfe carioca e brasileiro, porque justamente neste ano o site turfebrasil vai prestar uma homenagem dedicada a dois nomes vigas mestras do turfe brasileiro.

 

Quem participa das famosas discussões turfísticas entre os amigos, certamente concordará que se o assunto for jockeys do passado, e o nome dos dois homenageados não for pronunciado durante a conversa, é bom ter cuidado, pois essa conversa não é de Grupo I.

 

Quis o destino que neste ano de 2004 fosse marca de comemoração de duas conquistas que são lendas no turfe brasileiro, e para seus protagonistas, mais do que uma homenagem, uma reverência  será feita.  

O turfista da velha guarda há de se emocionar e o novo turfista certamente terá um ponto de interrogação na sua cabeça, mas a nossa justa homenagem vai ao mais famoso jockey brasileiro de todos os tempos, Luiz Rigoni – O Homem do Violino – e também ao não menos famoso, o legendário freio paulista Dendico Garcia.

O artigo começou afirmando de se tratar de uma comemoração especial, mas que comemoração será essa?

Exatamente no Grande Prêmio Brasil deste ano, comemoramos o aniversário de 50 anos da conquista dessa prova por Luiz Rigoni, que em 1954 montando o cavalo argentino El Aragonés, o Homem do Violino, para uns ou Fantasma da Gávea para outros, fez com que um hipódromo lotado, assistisse uma de suas mais belas aulas de turfe.

Luiz Rigoni - Lenda viva

 

Por outro lado, dez anos após essa data, ou seja, 1964 , o imortal Dendico Garcia vencia o GP Brasil com o cavalo Leigo, iniciando ali a marca inicial de seu intransponível tri campeonato consecutivo da prova, completado com  Zenabre, que lograria vencer esse GP por duas vezes, 65 e 66.

É muito provável que jamais  venhamos a presenciar novamente uma performance dessa.

 

Donos de uma técnica refinada de percurso e tocada, esses dois jockeys, que montavam no mítico regime de freio protagonizaram época em um meio que era por demais saturado de jockeys fantásticos.

 

O leitor deve imaginar que ao adentrar a um starting gate, esses dois jockeys sagrados  tinham ao seu lado como adversários; Pierre Vaz, Francisco Irigoyen, Domingos Ferreira, Luiz Gonzales, Cândido Moreno, Oswaldo Ulloa, Juan Marchant, Irineo Leuguisamo, Juan Pedro Artigas, Olavo Rosa, L.B.Gonçalves, V.P.Filho e A.Ricardo e outros. 

 

Sinceramente, só de mencionar os mestres acima citados já fariam qualquer jockey de hoje ficar eternamente agradecido por ter tido oportunidade de haver participado de uma prova com esses esses jockeys.

Montar numa prova dessa, hoje seria objeto de curriculum vitae.

 

Evidentemente que suas montarias, El Aragonés e Leigo, foram cavalos extraordinários mas isso só foi possível por que Luiz Rigoni e Dendico Garcia souberam extrair o melhor que eles podiam oferecer.

 

Luiz Rigoni, que tinha por marca registrada o chicote em balanço próximo, às rédeas, e cujo movimento assemelhava-se a um violinista, mais do que rápido foi aclamado como o Homem do Violino e como tal eternizou-se em um esporte e numa época, em que nomes como Garrincha, Maria Esther Bueno, Pelé, Eder Jofre eram as constantes manchetes de jornal.

 

Por outro lado, em São Paulo, Dendico Garcia, sem um carinhoso dístico, mas com sobras e mais sobras de categoria e técnica era um sinônimo de perfeição.

 

Tanto beirou a perfeição que genéticamente transmitiu-a a seu filho, Jorge Garcia, que por muitos anos foi um dos mais importantes freios do turfe brasileiro, e tal qual o seu pai colecionou como vitórias, as mais importantes provas do turfe sul americano.

 

Como treinador, Dendico Garcia repetiria toda sua categoria, ao vencer igualmente as principais provas do turfe brasileiro. Um profissional do turfe por completo.

 

Uma passagem curiosa do Luiz Rigoni, que reflete bem o clima do turfe de antigamente, é que certa vez, ele juntamente com um amigo tinham uma acumulada de três cavalos de vencedor, sendo a última indicação da acumulada, um cavalo montado pelo Oswaldo Ulloa.

As duas primeiras indicações haviam vingado e foram para a última indicação da acumulada, porém o próprio Rigoni montava no páreo.

 

Quando o Ulloa tomou a ponta, o amigo do Rigoni já começou a fazer contas da acumulada fechada  no duro, mas em seu encalço vinha o Rigoni e lá pelos 200 metros o Rigoni aperta o Ulloa, e começa um cabeça-à-cabeça que levou o público ao delírio, e é claro, torcendo pelo Rigoni, ídolo da Gávea, com o famoso grito de guerra “Da-lhe Rigoni “.

 

Resultado: Um demorado fotochart que acusou a vitória do Rigoni por diferença mínima,e para desespero de seu amigo, a acumulada naufragava melancolicamente.

 

Perplexo, o amigo vai falar com o Rigoni para tentar saber o que aconteceu, e o Homem do Violino, lhe diz simplesmente que era impossível resistir àqueles gritos de “Dá lhe Rigoni”, e que dinheiro do mundo nenhum paga a sensação de ganhar um páreo naquelas condições.

 

Esse é o verdadeiro Mundo do Turfe!

 

Uma curiosidade entre esses dois mestres é que Dendico Garcia venceria o Grande Prêmio São Paulo de 1971, montando Viziane e Luiz Rigoni venceria o GP Brasil desse mesmo ano, montando também Viziane, e mais curioso ainda é que o Rigoni venceu três vezes essa prova, tal qual o Dendico Garcia, porém não o de forma consecutiva e ambos jamais venceram o Derby Paulista.

   

Independente de quem venha a vencer o Grande Prêmio Brasil de 2004, que fique registrado para todo o sempre que nessa data, dois dos maiores nomes do turfe brasileiro marcaram sua época e mais do que uma homenagem, esse espaço tentou prestar-lhes a justa reverência.

 

Dendico Garcia já não está entre nós desde o ano passado, mas esta homenagem, longe de ser póstuma, é mais viva do que nunca, pois vivas ficarão suas vitórias de jockey e treinador.

 

Aqui na Terra seu nome está indelevelmente na História do Turfe, no Céu certamente ou é montaria oficial de São Jorge, ou treinador do Criador.  

 

Luiz Rigoni será homenageado pelo Jockey Club Brasileiro neste GP Brasil, e que todos os presentes no hipódromo, ao avistarem saibam que ali está uma lenda viva do turfe sul americano.

 

Vejamos alguns grandes momentos desses mitos. 

 

Luiz Rigoni vencendo com El Aragonés do GP Brasil de 1964   


Dendico Garcia vencendo o Brasil de 66 com Zenabre   


Luiz Rigoni vencendo em São Paulo o Grande Prêmio Rafael Aguiar Paes de Barros, em 2.400m, em São Paulo, montando Dubrovnick do Stud Seabra.       


D. Garcia vencendo o GP Gal. Couto de Magalhães, em 3.218 metros, com Viziane(por  dentro).Note a elegância em sua tocada.

 

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