GP´s Inesquecíveis


" A eternidade tem nome: Impardonnable (Brz)"

Por Clackson


É quase que uma norma no mundo do turfe em que os grandes cavalos sejam reconhecidos, quase que na sua totalidade, pela campanha que tiveram na pista de grama e na mais do que clássica distância de 2.400 metros.

Por esta coluna de GP's Inesquecíveis, já passaram nomes que fizeram a glória do turfe nacional, mas ainda persiste uma lacuna que hoje pretende-se preencher que são dos grandes cavalos que tiveram suas campanhas todas voltadas para a areia e nela, à exemplo aos da grama, revelaram-se grandes campeões.

Sem a intenção de desmerecer os muitos nomes que estão nessa galeria de campeões da raia de areia, a homenagem de hoje será para, na minha opinião, o maior de todos eles: o cavalo Impardonnable.

Esse espetacular cavalo, filho de Exile King e Dash Dance, foi um produto escolhido à dedo pelo proprietário Alexandre Baldoíno Costa, titular do Stud RAABC,(após uma pequena dica de seu amigo hipólogo  Julio Cesar Matano ) quando do leilão do famoso Haras Lorolu, seu criador, e o fenomenal Impardonnable iria lograr uma extensa campanha vitoriosa sempre em longas distâncias e na raia de areia, sempre
treinado pelo competente Adonir Freitas Correia e montado pelo enérgico jockey paulista Antonio Queiroz.

Suas corridas em Cidade Jardim eram um misto de facilidade e categoria, dado a forma que vencia seus adversários, pois tomava a ponta de forma autoritária e nela permanecia até a transposição dos disco. Qualquer comparação com o também imortal Cacique Negro, não será coincidência, pois esses dois monstros sagrados humilhavam seus adversários.

Impardonnable, o Cacique Negro da areia !! 

Dentre muitas vitórias, vamos destacar o Grande Prêmio Paraná de 2001 onde Impardonnable venceu todos os melhores cavalos nacionais da pista de areia de forma incontestável.

Com um campo formado pelos melhores "arenáticos" do turfe nacional, tais como Wiseguy, Mucho Dinero, Echoes,  Horowicks, Gorylla ( posteriormente vencedor do GP Carlos Pellegrini), Arrogante Rider e outros, o páreo estava
por demais equilibrado, mas devido à sua campanha, Impardonnable era o favorito.

No cânter, o brioso cavalo mostrava que dificilmente seria derrotado, dado um galope desenvolto e cheio de energia, mas algumas armadilhas "ex-raia" estavam armadas, pois a organização da prova, havia inadvertidamente deixado algumas brechas que poderiam influir no desenrolar do páreo.

A primeira delas ocorreu logo após o cânter, pois para surpresa geral, os animais retornaram ao padoque à espera do páreo, pois dessa forma o tempo para as apostas seria substancialmente maior, mas para um cavalo voluntarioso como Impardonnable, aquele tempo de espera gerava uma irritação, que nem seu jockey e treinador poderiam prever a influência deste contratempo na corrida.

O cavalo no padoque estava indócil e o jockey Antônio Queiroz fazia de tudo para acalma-lo, sob olhar do treinador e proprietário. Depois da longa espera, os competidores adentraram à raia e uma segunda peripécia estava por vir. 

Nos trabalhos de alinhamento no starting gate, o tempo transcorrido passou por todos limites imagináveis de bom senso, pois uma demora acentuada fazia com que Impardonnable mais ficava mais e mais impaciente. Tanto que na primeira tentativa de alinhamento, ele escapou do starting gate e foi contido à muito custo pelo Queiroz.

Os corações do treinador, proprietário e amigos estavam à beira de um colapso, pois tudo contra o Impardonable estava ocorrendo e o resultado disso tudo ninguém sabia onde iria acabar.

Passado esse sofrimento desnecessário, foi dada a largada para o GP Paraná de 2001, em 2.400 areia e logo Sun Deck, montado pelo freio Geraldo Assis, tomava a ponta com Horowicks, Impardonnable, Juanito Caminador e outros à seguir.

Impressionante foi à primeira passagem pelo disco, onde os galões de Impardonnable mostravam claramente que apesar de todos os percalços, muita energia havia sido guardada pelo espetacular cavalo.

Na curva da direita, Horowicks aproxima-se mais de Sun Deck com Impardonnable em terceiro, e no pelotão de trás, a esperança do turfe paranaense, Wiseguy, aguardava seu momento, e os demais alternando algumas posições.

No meio da reta oposta Horowicks toma a ponta e Impardonnable assume a segunda posição, pois a enormes esperanças em Horowicks eram depositadas no intuito de derrotar Impardonnable. O jockey de Wiseguy, acertadamente, percebendo essas posições à frente, avança um pouco seu pilotado, pois dessa forma, na hora decisiva da atropelada, seu pilotado estaria na posição correta.

No início da curva da esquerda, o Queiroz já vai encostando em Horowicks e já era previsível que à mercê de sua vontade, a ponta era uma questão de tempo, e ao final da curva e início da reta, o imortal Impardonnable faz fumaça da fama de ligeiro e duro de Horowicks, e assume a ponta abrindo dois corpos e rumando firme para o disco.

Com uma tocada que lhe é característica, o Antônio Queiroz fazia com que seu “velho amigo” Impardonnable galopasse firme para a vitória. O treinador Adonir Freitas Correia, o proprietário Alexandre Baldoíno Costa e demais amigos da farda verde, costuras brancas, já com os nervos a flor da pele, iniciavam sua merecida comemoração, bem emocionada por sinal, mas nos 250 metros finais essa emoção foi substituída por apreensão, pois Wiseguy, do turfe paranaense,  surge pelo meio de raia como um furacão, pronto para fazer o estrago da festa do “ cavalo de ferro” paulista

Para quem assistiu recentemente o Belmont Stakes e viu a derrota de Smarty Jones para um azarão que apareceu somente no final pode imaginar uma cena parecida no hipõdromo do Tarumã.  

Com uma forte tocada, o jockey Angelo Márcio Souza, fazia o Wiseguy ganhar várias posições e encostar perigosamente em Impardonnable. Vendo aquela cena insólita, a torcida paulista, contrariando o bom senso, saiu daquele momentâneo estado apreensivo e aumentou mais ainda a torcida, chegando a ser quase ensurdecedora, pelo menos para as pessoas mais próximas, pois tanta confiança era depositada em Impardonnable, que não seria o Wiseguy que estragaria a festa.  

O semblante do treinador A. F Correia era um misto de confiança e apreensão, pois depois de todos os percalços (imprevistos), tanto do cânter quanto do alinhamento, a pergunta mais óbvia era se Impardonnable teria resistência para aparar aquela violenta atropelada de Wiseguy.  

Impardonnable rumava firme para o disco, Wiseguy encostando, o público todo em pé vibrando, como todo bom GP, e o resultado ainda era um icógnita. Para quem conhecia o cavalo Impardonnable, sabia que era de seu feitio crescer quando ameaçado, e provas disso não faltavam, sendo seu maior teste foi quando este singular cavalo foi propositadamente fechado à 200 metros do disco, pela parelha do Stud Raça, em pleno GP Piratininga em Cidade Jardim, e mesmo com esse sério prejuízo, Impardonnable como a mostrar sua superioridade inconteste, avançou para cima dos seus algozes e venceu o GP.  

Como quase que respondendo à provocação de Wiseguy, por este ter ousado a se aproximar dele, Antonio Queiroz segue forte com sua singular e enérgica tocada e Impardonnable responde quase que como uma exigência para com o jockey, no sentido de a dupla mostrar quem era quem naquele páreo.

Wiseguy tentava, mas não conseguia e dessa forma a dupla Antonio Queiroz-Impardonnable mantinham a diferença, e o Wiseguy chegando às suas últimas energias, mas não seria aquele dia, nem qualquer outro da história, que ele passaria por Impardonnable e aquele monumento em forma de cavalo rumou firme para o disco, e sob o olhar geral do público, cruzou o disco vencendo o GP Paraná de 2001.  

Ao cruzar o disco, tanto o treinador e proprietário não agüentaram a carga emotiva e lágrimas podiam ser vistas em seus rostos, em meios aos inúmeros abraços que recebiam, quando estes se dirigiam para a raia recepcionar o maior cavalo de areia de todos os tempos.  

O jockey Antônio Queiroz estava radiante e emocionado,dizia em alto e bom som, à volta para a repesagem que em nenhum momento sentiu que o Wiseguy lhe ultrapassaria, contrariamente ao que todos pensavam, pois segundo ele, Impardonnable não havia sido exigido à fundo, e nem precisava dada sua categoria.  

Estava ali consagrado tanto o jockey quanto o singular cavalo, que enfrentando adversidades, e a despeito destas, vencia mais um GP de forma costumeira: arrasando adversários.  

 O público turfista do Paraná testemunhou uma tarde de gala, onde um cavalo imortal mostrou naquele hipódromo que não existia, e nem existirá tão cedo um outro cavalo que lhe faça sombra ao longo da história do turfe brasileiro. 

O tempo sempre será um carrasco implacável da memória, mas a eternidade é um remédio eficaz contra o tempo, portanto para o turfe, a eternidade tem, e sempre terá um nome: Impardonnable.!!!!  

  Abaixo, Impardonnable (Brz) rumo à vitória e chegada no GP. Paraná G.1 - abordo do excelente -  A.Queiroz  

   

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