Matéria Especial


Gp São Paulo dos Sonhos

Por Clackson

É quase uma rotina anual que,  na época da disputa do Grande Prêmio São Paulo, lembranças dos antigos campeões sejam renovadas em um clima nostálgico onde as grandes disputas são relembradas com detalhes.

Para manter essa tradição não poderíamos deixar de lado esse fato, e abrindo um espaço especial na coluna GP´s Inesquecíveis, vamos mudar um pouco a forma de enxergar esse grandioso páreo, deixando nossa imaginação tomar conta da situação. O GP São Paulo descrito abaixo pertence ao imaginário ( infelizmente) que acredito que seria o sonho de todo turfista : o maior tira-teima da história do turfe brasileiro.

Sim isso mesmo, um tira-teima entre três gigantes imortais que, pela simples menção de seus nomes em um páreo, faria até o turfista do Amazonas vir à Cidade Jardim para assisti-lo.

Como o páreo está no plano imaginário, alguns profissionais que farão parte essa narrativa já faleceram, mas no turfe não existe o conceito da morte, pois esses nomes são eternos, e a eternidade não tem um limite temporal, logo eles sempre estarão vivos na nossa lembrança.

Matando agora a curiosidade do leitor, o campo do nosso GP São Paulo está formado por um tricampeão dessa prova, o gigante Adil que será montado por seu jockey habitual, o freio Lodegar Bueno de Gonçalves, o não menos gigante Escorial, montado pelo ícone Francisco Irigoyen, e o tríplice coroado invicto Itajara, montado pela lenda na forma de bridão, Luiz Gonzales, jockey oficial por décadas do Haras São José e Expedictus.

Curiosamente, os respectivos proprietários foram o que houve de melhor na criação nacional, na sua fase mais aúrea. O Haras Jahu e Rio das Pedras, dos irmãos Almeida Prado, O Haras Guanabara, dos irmãos Seabra, e o sacrossanto Haras São José e Expedictus. Precisa dizer mais?

Imaginemos um tarde de sol em Cidade Jardim com o hipódromo totalmente lotado, os três campeões adentram a raia para o cânter, e na cerca já não há mais espaço nem para abrir o programa. Em um canto do padoque, uma rodinha formada por Dendico Garcia, João de Castro Godoy, Mario de Almeida, Osvaldo Franco e logo à frente outra rodinha com Pierre Vaz, Omário Reichel, Olavo Rosa e Irineo Leguisamo ( sim até ele quis ver esse páreo), Virgílio Pinheiro Filho não desgrudam os olhos do cânter.

O Adil no galope já mostra uma disposição incomum, para alegria dos irmãos Almeida Prado e do treinador Manoel Branco, já o Irigoyen faz um cânter discreto com que está a esconder um diamante, e o Itajara mostra um galope largo, sem entusiasmar, mas a dupla Luiz Gonzales e o treinador Andrés Molina sabem o que tem na raia.

Num clima de expectativa, é dada a largada para o maior  GP São Paulo de todos os tempos,  e o  Adil já toma a ponta e tira 2 corpos, seguido por Escorial e logo atrás o Itajara. Passando em frente às sociais, Adil abre 4 corpos na frente do Escorial e Itajara, mas os irmãos Almeida Prado ficam um pouco irriquietos, pois o Adil não precisa abrir muito, pois sua característica é correr acomodado e avançar forte, mas como páreo estava no início, o Lodegar poderia consertar isso.

A curva do estacionamento é completada sem alterações, mas no início da reta oposta o Adil abre 6 corpos e os Almeida Prado ficam bem assustados, e junto com eles o Lineu de Paula Machado, já olha para o treinador Andrés Molina, com quem a dizer de onda saíra aquela instrução de correr o Itajara de trás. Os irmãos Seabra, junto com o treinador Juan de La Cruz estão na mais perfeita calma.

No meio da reta oposta o Lodegar ainda tem o Adil na ponta com boa vantagem, mas o que não dava para explicar era porque o Gonzales com o Itajara está colado atrás do Escorial. O Lineu já está transtornado, pois não é essa a forma de correr o cavalo !!!

Os irmãos Seabra sentem que o Irigoyen está deixando o Adil galopar muito fácil na frente, mas como essa tática havia dado certo contra o Farwell, no Pellegrini, eles tentaram disfarçar a preocupação.

No começo da curva da esquerda, o páreo começa a se modificar, mas não muito, pois a diferença do Adil para o Escorial é de 3 corpos, mas todos que estão acompanhando o páreo julgam que na chegada da reta o Adil vai parar de estalo. O Itajara não sai de jeito nenhum atrás do Escorial. Já estava irritando essa tática do Gonzales.

No meio da curva começam os sinais de algo vai mudar, pois o Escorial fica mais perto, e tudo parece que ele só está esperando a reta, na sua melhor parte, para avançar e acabar com a chance do tetra do GP São Paulo do Adil. O Lineu com o semblante fechado pressente que a invencibilidade de seu " xodó" Itajara, vai cair e não fala mais nada com o Andrés Molina, pois ele não consegue imaginar como alguém consegue encaixotar um cavalo atrás de um apenas !!

Os irmãos Almeida Prado sentem que a reta será interminável e pelos galões do Adil, o tetra não sai, pois o Escorial já está muito perto e pronto para liquidar a fatura . Essa escola chilena de bridões é fogo.....

Termina a curva, e a maior reta de todos os tempos de Cidade Jardim está para iniciar, e o Adil pela baliza dois ainda mantém a ponta, mas sem receber qualquer alerta. Aquela cena congelou os Almeida Prado, pois normalmente era nessa hora que o Adil avançava para liquidar, mas estava tudo invertido. Na altura dos 400 metros finais, o Irigoyen passa de golpe para a baliza um, e faz aquilo que o consagrou pela vida inteira, inicia uma arrancada por essa baliza, ( coisa rara de ser ver hoje em dia) e já começa a igualar a linha do Adil.

Na hora que o Irigoyen tirou para dentro, o Gonzales mais do que rápido, abriu um pouquinho e encostou, quase igualando no Adil,

e ali estava demonstrada sua tática, pois ele sabia que a qualquer momento o Irigoyen iria para a baliza um, e abriria todo espaço que ele precisava para encostar no Adil. Ele não havia perdido um só metro, e isso no final vai contar muito. Um verdadeiro mestre!!!

Ao ver a cena, o Lineu arregalou os olhos, pois o Itajara estava ao lado do " cansado"  Adil e disputando com o Escorial a ponta e  com pouco de energia, dava ainda para ganhar o São Paulo. O hipódromo estava vindo abaixo, pois Escorial por dentro, Adil no meio e Itajara por fora, e o Escorial livra cabeça do Adil e o Itajara já está alinhado, por fora, com o Escorial.

Os irmãos Almeida Prado eram uma desolação só. O tetra estava indo embora, mas nos 200 finais, o Lodegar, magicamente, descortina toda sua tática, pois até então todos julgavam ele como "morto" no páreo, mas esqueceram que um jockey de freio tem ao seu favor aquela milagrosa embocadura, que amansa um animal durante o percurso, e o Adil nada mais havia feito do que fazer um train falso, e o Lodegar ajusta a rédea e dá um alerta no Adil, e aquela máquina em forma de cavalo, recupera a diferença do Escorial, como ainda livra pescoço, e tem vantagem sobre o Itajara.

Os proprietários estão perplexos e perdendo toda o espírito quatrocentão, começam a torcer como se estivesse montando seus animais.

Nos 150 finais, o Irigoyen continua com sua lendária tocada e dá um alerta no Escorial e consegue  igualar com o Adil e o Gonzales, por fora, tira focinho na frente dos dois. Uma guerra de gigantes está fazendo com que a raia de Cidade Jardim pegue fogo. O Itajara já tem pinta de ganhador, mas tanto o Irigoyen como o Lodegar, exijem a fundo seus dirigidos, e entram nos 100 metros finais.

Como uma final de Copa do Mundo, o hipódromo parece que vai ruir como as muralhas de Jericó, tanto é o barulho do público, e na raia, o Adil finalmente tira cabeça na frente dos dois e vai para o disco, e agora só faltam 50 metros e os Almeida Prado já vêem o tetra chegar, os Seabra não admitem perder daquele jeito, e o Lineu confia que o Gonzales ainda tem 50 metros para decidir o páreo. E tinha mesmo !!!

Com o Adil abrindo com cabeça na frente, o Gonzales num esforço sobrenatural consegue fazer o Itajara trocar de mão, e aquela milagrosa manobra, faz o invicto Itajara igualar os galões do Adil e a dupla já está formada, mas esqueceram de que ao lado deles estavam dois mitos, Escorial e Irigoyen,  que não vão permitir um final assim, e como não foi à toa que o Escorial ganhou um Pellegrini, o Irigoyen passa o chicote para a esquerda e só tem a chance de dar um alerta, pois o disco está chegando, e ao dar o alerta cruza o disco com os outros dois gigantes.

Um verdadeiro êxtase tomara conta de Cidade Jardim, pois o maior São Paulo de todos os tempos terminava de uma forma magistral e eterna. Os proprietários cumprimentaram-se uns aos outros, mas cada um achando que seu cavalo havia vencido.

Um mais do que obrigatório fotochart foi anunciado e no padoque, aquelas rodinhas de jockeys e treinadores mencionados no início já começavam a dizer quem ganhara. O Dendico cochicha com o João Godoy enquanto o Leguisamo junto com o Pierre Vaz fazem um sinal de positivo para o Juan de La Cruz, treinador de Escorial. Seria ele o vencedor ?

O Mário de Almeida acena para o Andrés Molina e isso anima o Lineu que vê a cena de longe.

Os jockeys que retornavam para a repesagem, faziam cara de vencedores, mas a foto ainda não havia sido revelada. Os proprietários estão em dúvida em quem deve entrar na raia para a cobiçada foto.

Após uma longa espera, a Comissão de Turfe afixa a foto no quadro e põe o páreo em julgamento com o resultado.......

Caro leitor, como os turfistas no hipódromo não acreditaram no resultado do GP , o site Turfe Brasil irá publicar essa foto logo após o verdadeiro GP São Paulo, à ser corrido no dia 16 de Maio, essa é a data do GP São Paulo , pois assim ficaremos com os resultados desses dois GP´s.

Será publicada um foto mesmo!!.

Até lá, você poderá indicar quem venceu esse GP São Paulo dos Sonhos, deixando sua indicação no Livro de Visitas do site.

Boa indicação !!  

FOTO DA CHEGADA

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