Especial                              por Julio Matano 


História do Puro Sangue Inglês

Obvia Todos os cavalos raça Puro Sangue Inglês, em qualquer parte do mundo, da Argentina ao Zaire descendem em linha direta, paterna de apenas três garanhões da raça Árabe. os três

Obviamente os três garanhões não foram os únicos animais orientais que, cruzados com os eqüinos autóctones das ilhas britânicas, se constituíram nos fundadores de uma raça criada com apuro Thoroughbred, como é chamada pelos ingleses para o fim especifico de disputar corridas, após quase ré, séculos de rigorosa seleção e cuidadosa consangüinidade, houve muitos animais importados pelos britânicos, e não apenas garanhões, como também éguas matrizes, das diversas linhagens orientais. Contudo, em linhagem direta, de pai para filho, apenas três garanhões estabeleceram estirpes que são as mesmas em qualquer parte do mundo onde se dispute eventos turfísticos dentro das normas tacitamente aceitas pelos desportistas, independente de nacionalidades ou mesmo sistemas econômicos ou políticos.

Nos países do bloco soviético há corridas de cavalos, embora os animais não sejam de proprietários particulares. Mas, embora pertencendo ao Estado, suas linhagens seus pedigrees, como se diz  respeitam meticulosamente as regras e disposições do primeiro livro de registro da raça, o famoso Stud Book, instituído e publicado pela família Weatherby, em 1791. Deste General Stud Book inglês resultam os respectivos livros de registro genealógico dos demais paises onde se criam cavalas PSI. É o livro onde são registrados os animais que nascem, observadas as regras e disposições universais.

A regra mais importante é a de que um animal, Para obter registro, obrigatoriamente deverá ser filho de um garanhão e de uma égua que, por sua vez, já eram registrados. Ou seja, nenhum cavalo obtém registro como um PSI, se seus pais já não o tiverem. Obviamente, se o Stud Book de todos os países do mundo resultam dos relançado no Stud Book da família Weatherby, a criação dos animais PSI, em cada país, forçosamente foi iniciada com a importação de animais ingleses, e devidamente registrados pelos Weatherbys.

Há registro de corridas de cavalos há quase 5 mil anos. O mais antigo data do ano de 3000 a.C. quando o soberano de um pequeno reino perdido na bruma da História chegou a lançar num papiro os nomes dos animais de sua coudelaria real. Já na Grécia, nos vigésimo-terceiros jogos olímpicos da Antiguidade, realizados em 625 a.C., houve corridas de cavalos e, em 430 a.C., o grego Xenophon publicou o mais antigo manual de Inpologia de que se tenha conhecimento na atualidade.

Nas ilhas britânicas, por sua vez, o esporte também é multimilenar, disputa da Lanark Silver Bell, prova que faz parte do calendário anual de corridas de cavalo da Escócia até os dias de hoje, foi instituída em 1200 a.C.!

Contudo, as bases para o turfe, como o conhecemos agora, foram assentadas durante o reino de Elizabeth, a primeira, entre 1558 e 1603, da nossa era cristã. A soberana encarregou Robert Dudley, o conde de Leicester, com a missão de estabelecer centros de equinocultura, Para dirigi-los, o conde contratou o napolitano Próspero d'Osma, que deu inicio à importação de garanhões.

O próximo soberano britânico, o escocês James I, foi o grande patrono do esporte, importando garanhões orientais e determinando que o vilarejo de Newmarket fosse transformado num centro de treinamento e de corridas. Idealizava-se, a 19 de março de 1619, o primeiro hipódromo nos moldes dos atuais. Foi inaugurado com suas diversas raias de grama, em 1636, já no reinado de Charles I, que ordenou a criação de outros centros turfísticos.

Sob a responsabilidade do duque de Buckingham foram importadas duas dúzias de animais Árabes, da Espanha, sobretudo, entre os quais o garanhão Place's White Turk.

O monarca Charles I foi deposto e decapitado pelo general Cromwell que dentro de seu puritanismo protestante decretou a proibição das carreiras  por causa, do jogo - mas continuou a incentivar, eqüinocultura. Durante sua ditadura foram importados dois notáveis garanhões Árabes, Hemsley Turk e Fairfax’s Morocco Barb, enviados de Constantinopla.

Restaurada a monarquia, o soberano Charles II determinou a importação de um lote de éguas orientais, dando uma base das mais sólidas à equinocultura inglesa. Foram a, denominadas Royal Mares. Seu irmão e sucessor, James II, último monarca da linha Stuart, por sua vez, importou um expressivo lote de garanhões para cobrir as éguas reais Lister Turk, Hutton’s Bay Turk, Barb Chillaby, D’arcy’s White Turk (que foi pai de Common e Grey Royal), D'arcy’s YeIlow Turk (que foi pai de Spanker), Matthew’s Persian, Croft's Egiptian, Hutton's Bay Barb, Mark Len's Persian e ST. Victor’s Barb, todos vindos diretamente do oriente.

Da França vieram, ainda, Thoulouse Barb e, sobretudo, Curwen’s Bay Barb, de excepcional influência, tendo sido pai de Mixbury, Tantivy e Mistake, além de ter sido o avô materno de Partner, um dos grandes elos numa linhagem que sobreviveu em linha direta até o presente.

Todos estes animais, e muitos outros, fazem parte da formação da raça e obviamente, entrariam no pedigree da maioria dos cavalos atuais, se fossemos distender suas genealogia â trigésima geração.

Pelas leis da genética, qualquer antecessor pode predominar na formação de um individuo. Assim, um cavalo pode, através de sua mãe, herdar características predominantes do pai da mãe de sua mãe, ou seja, de um bisavô da linhagem feminina. Contudo, para efeito de registro de linhagem, como acontece também entre os humanos, considera-se uma estirpe sob o aspecto sucessório direto de pai para filho. É desta forma que temos apenas três linhagens masculinas das quais todos os PSI do mundo são descendentes diretos.

A Primeira Estripe

O primeiro garanhão a fundar uma estirpe chegou ao turfe através doa campos de batalha. Foi capturado em Viena quando os cristãos derrotaram e expulsaram turcos, em 1683. Levado para a Inglaterra, o animal passou a ser conhecido pelo nome de seu proprietário, como era o hábito, além de ser chamado de turco embora fosse da raça Byerley turcÁrabe. O Byerley Turk voltou ao campo de batalha, montado pelo dono, o coronel Byerley, na Irlanda onde as tropas do novo monarca William III derrotaram o exército de seu sogro e antecessor, James II, que havia sido deposto.

Após a refrega, o Byerley Turk passou à reprodução de cavalos de corrida. Foi pai de Jigg, que foi pai de Partner (neto materno de Mistake, como citamos), que foi pai de Tartar, que foi pai de Herod, grande chefe de raça que gerou nada menos que três ramos importantes de garanhões, através de Florizel, High Fever e Woodpecker. Destes ramos, através dos séculos, passamos por animais como Le Sancy (cujos descendentes acentuaram a pelagem tordilha no Brasil), The Tetrarch e, sobretudo, a seqüência Bruleur, Ksar e Tourbillon.

 Dois cavalos garanhões do turfe brasileiro, Fort Napoleon e Coaraze, eram filhos de Tourbillon. Vacilante da linha de Tourbillon deu Troyanos craque nas pistas. Não podesmos esquecer de citar Roxinho tríplice coroado paulista, cuja mãe descende de Tourbillon.  No turfe mundial, Tourbillon predominou através de seu filho Djebel (pai de My Babu) e do grande campeão Ambiorix. Outro filho de Tourbillon. Goya II, influenciou tanto o turfe mundial, quanto o nosso, através de seu filho Sandjar, um doa grandes chefes de raça da criação brasileira dos Toledo Lara.

Outro filho de Goya II foi Orbaneja, pai dos campeões e garanhões nacionais Ortile e Major’s Dilema é pai de Donética ganhadora do GP.São Paulo que gerou Kenético. Kigrande tinha como avô materno Major’s Dilema .Citamos apenas alguns nomes, pois foi muito extensa a influência desta estirpe no Brasil, inclusive através de netos de Tourbillon importados posteriormente. Se citarmos os principais filhos de Coaraze e de Fort Napoleon (e os seus filhos, por sua vez), esgotaríamos nosso espaço com esta única linhagem.

A Segunda Estripe

A criação de uma raça de cavalos cada vez mais adequada às corridas continuou recebendo o apoio dos monarcas, da nobreza e da aristocracia na Inglaterra. O rei William III fundou o Stud Real em Hampton Court e, posteriormente, em 1695, contratou um cidadão chamado Tregonwell Frampton para tratar dos cavalos da coudelaria real, estabelecendo desta forma a profissão de treinador profissional do turfe.

Em 1703, uma aristocrata adquiriu um garanhão do xeque Mirzar, criador de cavalos Árabes da linhagem Managhi, uma das mais importantes até os dias atuais. Após muita confusão, na qual o aristocrata de Yorkshire alegava que o xeque estaria quebrando a palavra dada, rompendo o trato de venda, e do xeque, por sua vez, alegando que não havia sido pago, o fato é que o inglês conseguiu confiscar o garanhão, leva-lo para a Inglaterra e, como era de hábito, dar o seu nome ao animal: Darley Arabian, o fundador da mais expressiva das três linhagens Paternas.

O Darley Arabian foi pai de Flying Childers, considerado o mais veloz animal do turfe inglês de todos os tempos, mas sua linhagem não teve continuidade através deste campeão. Foi outro filho, carreirista apenas modesto, Bartlet’s Childers, que gerou a Squirt, pai, de Maske, um campeão que, por sua vez, foi pai do grande campeão invicto Eclipsee chefe de raça, Eclipse. Seus filhos King Fergus e Pot-8-os geraram dois ramos que dominam cerca de 85 por cento do turfe internacional de hoje.

Seria impraticável citar os grandes campeões e chefes de raça destes ramos, através dos séculos. Só o legendário St. Simon, por exemplo, se desdobrou em nada menos que cinco novas dinastias, que nos dias atuais nos brindaram com Ribot, Round Table e Sicambre entre outras. Ainda descendendo de Darley Arabian temos as linhagens de Son-in-Law (que nos deu Adil); de Oleander (cujo filho Orsenigo foi pai do nosso insuperável Escorial); de Hyperion (linhagem que nos deu campeões como Farwell e Duplex entre centenas de outros); de Asterus (cujo filho Formasterus foi pai do nosso célebre Helíaco). Esta linha pertence ao chefe de raça Teddy, do qual descendeu Vomage (Brz) e Off The Way (Brz), entre outros.

Deixando de lado as implicações da estirpe do Darley Arabian no nosso turfe diretamente, citamos nomes que dominaram e dominam a quase totalidade dos grandes prêmios mundiais: Blandford, Donatello, Sir lvor, Congreve, Citation, Kelso, e omitimos mais uma centena de nomes para dar espaço a Phalaris, pai de Fairway e Pharos.

Estamos, então, diante da maior explosão de genialidade eqüina. Por Fairway chegamos a Fair Trial, a Petition, Court Martial, Brigadier Gerard, etc. Através de Pharos vamos a Pharis, a Nearco e toda a constelação que descende deste: Nasrullah, Ballymoss, Never Say Die, Nashua, Mill Reef, Northern Dancer, Nijinsky,Gren Dancer, Ghadeer , Nureyev, Shirley Heights, Darshaan , Blushing Groom, Seattle Slew, Riverman, Danehill, sobretudo Bold Ruler, pai de uma dúzia de campeões como Secretariat. No Brasil, com grande destaque do ramo de Nearco, I Say (pai de Clackson) e Tumble Lark. De Phalaris também foi filho Pharamond (cujo ramo deu Tom Fool e Sickle (de quem descendem Polynesian, Native Dancer , Mr.prospector, Fappiano , Roi Normand, Buckpasser, etc...

Efetivamente, a estirpe de Darley Arabian e seus inúmeros ramos dariam uma edição especial do PSI, senão uma coletânea em fascículos. . .

A Terceira Estripe

GodolphinA mais românica linhagem pertence ao garanhão Godolphin Barb, um cavalo também Árabe que foi dado ao rei Louis XV de França pelo sultão do Marrocos. Da coudelaria real o cavalo foi acabar puxando carroça nas ruas de Paris, onde Edwin Coke, um inglês conhecedor de cavalos, chegou à conclusão de que se tratava de um representante da linhagem Árabe denominada Jilfan, uma das mais imponentes daquela raça, cujos animais atingiam acima de 1m52 na cernelha, numa época em que raros eram os cavalos Árabes que ultrapassavam a altura de 1m45. O cavalo foi comprado, levado à Inglaterra e vendido ao conde de Godolphin, em 1730.

Segundo a difundida versão romântica, o garanhão teria atacado e derrotado em combate o principal campeão do conde, merecendo, assim, a honra de assumir o harém de éguas matrizes da criação Godolphin. Seja fato ou fantasia, o Godolphin Barb gerou o campeão Cade, que foi pai do excepcional Matchen, um campeão que viveu até os 33 anos de idade e deixou uma linhagem que sobrevive até nossos dias sem haver sido muito ramificada, sendo a mais hermética das três estirpes mundiais.

Neste século, dois ramos se destacaram, o de Hurry On (que deu Precipitation, da qual descende Henri Le Balafré, 2 cavalos influentes na criação brasileira, e Coronach, pai de Corrida, a mãe do nosso grande raçador, Coaraze e o ramo de Man O’War, o imortal ídolo dos Estados Unidos, do qual foi filho o Tríplice Coroado americano War Admiral.

A descendência de War Admiral foi primordial na nossa criação, através de Locris e Nordic, em passado recente aqui no Brasil.

Nenhuma outra raça eqüina, nem mesmo a Árabe  que foi a raçadora do Puro Sangue Inglês  possui registros genealógicos tão perfeitos.

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