Matéria Especial  por Rodrigo Schulze


"Mais que um cavalo, um Grande Amigo"

 Ainda me lembro, quando a égua foi levada ao tronco para ser apalpada, lá por meados de agosto de 1996, e ela estava pronta para ser padreada, era a vez de utilizar um reprodutor que havia sido criado no próprio Haras, filho de uma extraordinária égua, Frau Astrid, foi então que aconteceu o cruzamento de Falsch e Carrache.

Após o período de gestação, nasceu no dia 28 de julho de 1997, um potro todo problemático, selado, todos passavam batidos por ele, ninguém nem perdia tempo em notá-lo.Porem era filho do cavalo que eu havia levado para reprodução, por isso já tinha um carinho muito especial por ele. Lembro-me como se fosse hoje, uma visita feita no Haras por um veterinário amigo meu e dois proprietários meus amigos para ver essa geração, eles já estavam com dois anos, perto de estarem prontos para ir para o jóquei. Meu amigo veterinário gostou bastante do potro, apesar de seus defeitos, o outro topou uma sociedade neste potro influenciado pelo veterinário e o terceiro, muito brincalhão, assinou um papel dizendo:”Filho de Falsch selado não ganha em Cidade Jardim”.

O potro foi levado para Campinas onde iniciou seus trabalhos, e começou indo muito bem, mas a sociedade não deu certo e o potro mudou de ares indo para Porto Feliz, onde algumas semanas depois veio a estrear, numa prova especial para filhos de pais nacionais, fez terceiro, perdeu tudo no finalzinho, não fosse a partida infeliz dada por seu condutor na ocasião, poderia ter ganho logo de cara. Semanas depois voltou a correr, na condição de favorito, não passou de outro terceiro, dessa vez mais longe, um pouco decepcionante.Dois dias depois me liga o veterinário com a triste noticia de que o cavalo havia fraturado o joelho, a fratura era grave e necessitava de cirurgia. Então fomos atrás de um cirurgião, tudo pronto para a realização da mesma.Após a cirurgia, o cirurgião vira para o veterinário e eu e diz que embora a cirurgia teve êxito, ele não acreditava num possível retorno do mesmo. Meu amigo veterinário falou que deixasse pois agora nós íamos cuidar dele.

O cavalo foi enviado de volta ao haras onde passou por um período de recuperação de 7 meses e retornou a Porto Feliz e iniciou treinamentos para voltar a correr.Muita expectativa em seu retorno e novamente um terceiro....

Na corrida seguinte, pegou um páreo bem cheio, tinham treze animais, ele corria pela quinta colocação ate a entrada da reta, quando passou para segundo e veio brigando cabeça a cabeça, passando para primeiro nos derradeiros metros.

Ao retornar, agora na “turma de cima” não passou de um quarto lugar, estava bom, mas com gosto de quero mais, e ele correu novamente alguns dias de pois e repetiu a colocação, agora com gosto amargo, afinal o cavalo tinha se machucado de novo, tendo que parar para recuperação. Dez meses depois ele retorna, ao entrar no padoque para falar com os jóqueis, o treinador  tinha dois animais no mesmo páreo, e falou para os dois:”um ganha e o outro faz segundo, não sei quem ganha”. Achei aquilo muito engraçado e embora o jóquei do outro animal  tentasse prejudicar o meu, ele acabou ganhando assim mesmo e  outro fez segundo, assim como o treinador havia dito....

Como nem tudo é bom, no dia seguinte veio a noticia de que o cavalo precisava de outra parada, porem dessa mais rápido, apenas um mês.Voltou a correr, agora com um aprendiz, e foi dada a instrução a ele para correr pelo meio de lote, e logo na largada o cavalo tomou a ponta e acabou com as corridas, foi de ponta a ponta, ao chegar para a repesagem, o aprendiz pede desculpa e sacolejando os braços diz que não conseguiu amansar o cavalo, perdoamos por que ele havia vencido. Após essa corrida, tentamos um passo maior, um grande premio, foi a primeira descolocação dele, mas o jóquei falou após a corrida para não desistir dele pois era um bom cavalo e não fosse uma fechada, ele tinha chegado colocado. Corremos ele novamente em GP e não obtivemos sucesso, infelizmente.

Então, algum tempo depois colocamos o animal para correr num páreo de sua enturmação, era o final de semana que eu ia viajar para viagem de formatura, todas as provas já realizadas e a turma se reuniu antes para comemorar, a corrida era sábado, a viagem domingo, o jantar na quarta antecedente, convidei meus colegas para irem assistir ao cavalo correr pois acreditava em vitória, ninguém apareceu. Ao ser dada a largada, o favorito do páreo foi para a dianteira e um senhor que eu não conhecia me cutuca e comenta que aquele era a maior barbada do dia, fiquei quieto, ao entrarem na reta, meu cavalo passa por ele como se nada fosse....foi sua vitória mais fácil, sete corpos.

Voltou a um GP e nada, voltou a turma e colocou-se, então num dia chuvosos ele volta a correr, como um azarão, afinal haviam cavalos clássicos no páreo, o cavalo mal acompanhava o ritmo da corrida, sobrando para as ultimas colocações, entrou na reta em penúltimo, o jóquei o coloca na cerca pelo lado de fora, a narração ainda esta na minha cabeça “os galões são largos, passou para segundo e já vem buscar o primeiro” dizia Casella, o narrador. Eu pulava como uma criança e berrava torcendo, o cavalo vence sua quinta corrida, eu estava mais do que satisfeito, ele era uma superação a cada corrida, pois seus problemas físicos iam se agravando....

Após essa corrida ele teve complicações mais serias e teve que ser afastado, mandei-o para o Haras para descansar e queria tentar encerrar a carreira dele como ele merecia, não importava em que páreo fosse, nem que fosse um bem fraco.Ele retornou com esse intuito, mas infelizmente não foi possível, as lesões já eram graves e ele não tinha mais condição de correr, aposentei-o e o enviei para o Haras para “curtir” sua aposentadoria, ela durou pouco, afinal uma cólica na Páscoa passada o tirou daqui, agora ele galopa lá em cima, sem grandes preocupações.

Valeu Quinn Lover, você sempre será o meu cavalo!!

Agradeço a todos que contribuíram para sua campanha, Fico, Maurinho,Serafim,Orlando,Zé Maria, Alexandre,Fabrício e os jóqueis que o conduziram em suas corridas.

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